domingo, 4 de maio de 2008

Control (O Amor Vai Nos Destruir)




Control, dirigido pelo holandês Anton Corbijn, restaura a imagem de Ian Curtis, vocalista do Joy Division, conforme a versão do livro "Touching from a Distance", escrito por Deborah Curtis, sua viúva.
A película traz muitas questões interessantes, as quais motivaram o filme ser aplaudido de pé na mostra paralela Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes em 2007.
Feito em preto e branco, não por acaso, mas para retratar como Ian encarava a vida: cinzenta, e cada vez mais escura... O roteiro é denso sem ser cansativo, e traz a temática da dificuldade em superar os nossos moinhos de vento. A fotografia é riquíssima, graças ao diretor, que também é fotografo.
O filme é emblemático em suas cenas, como o foco na estante de Ian mostrando suas influências; ele trancado no quarto sem fazer nada; assistindo ao show dos Sex Pistols no qual ele percebe que não queria estar no meio do público, mas no meio do palco; seu retorno do hospital após uma crise epiletica/overdose, em que senta-se em meio a banda e tenta com seu silêncio gritar que eles o ajudem; ao encarar sua filha após o retorno de um show, e ver nela a consequência das escolhas que se arrepende e a sua herança genetica defeituosa; a fumaça da chaminé do crematório.
A trilha sonora é perfeita, reunindo musicas do Joy Division e do Depeche Moede, grupo formado após a morte de Ian pelos seus companheiros de banda, que haviam pactuado no início do grupo encerra-lo caso algum deles falecesse. O Joy Division foi tão significativo para o rock mundial, quanto o Depeche Mode foi para a musica eletrônica.
Ian Curtis cresceu na era pós-punk, em que toda a energia anarquista foi diluída sem utilidade alguma. A recessão econômica da decada de 70 deixou os jovens sem perspectiva de futuro, sem saber o que fazer, e isto é esboçado no filme.
Nesta época Ian descobre o nazismo (especialmente o ocultismo nazista), e como vários outros jovens acha que tem de pertencer a algo melhor, superior, inclusive o nome Joy Division é dito como inspirado num bordel alemão descrito num romance, no entanto hoje sabe-se que este nome teria surgido numa sessão espirita com tabua ouija pelo espirito do próprio Hitler. Contudo a apatia da sua vida e a epilepsia que lhe aflige demonstra que ele é fraco, não correspondendo ao ideal ariano. Isto estimula sua depressão, somando-se ao fato de que Ian não queria envelhecer, e não conseguia enfrentar a realidade de ter casado e ser pai muito jovem, com todas as responsabilidades subsequentes.
As sombras que cercam Ian, seu sofrimento isolado, são o motivo da densidade do seu trabalho. Quanto mais ele sofre, melhores são suas interpretações (no filme um operador elogia a gravação feita enquanto ele observa a amante, da qual tenta se afastar) e suas performances (ele se inspirou obviamente nos ataques de epilepsia). Ele é depressivo porque queria uma vida simples e alegre, mas sente-se incompreendido, isolado, com as pessoas se alimentando e o elogiando pelo que ele mais despreza, que é o reflexo do seu sofrimento em seu trabalho. Ele queria ser amado por todos, mas não admite o amor que recebe das pessoas que o cercam.
Ian morreu em 18/05/1980, um ano e um dia antes do meu nascimento (rs).
PS: Dizem que o Legião Urbana foi a cópia descarada do The Smiths, mas ambos foram a cópia descarada do Joy Division. A marcação forte de bateria, o tom baixo do vocal, as letras densas e depressivas, a perfomance de Ian e até mesmo sua depressão, seu pensamento de ser consumido e destruido pela entrega ao trabalho foram copiadas por Renato Russo e companhia.
Veja o video abaixo como prova, uma perfomance do Joy Division no inicio da carreira ( retratada no filme) e perceba além da magistralidade do grupo que influenciou todo o Rock pós-70 que a música tem o mesmo andamento de "Ainda é cedo" do Legião Urbana. Em seguida um videoclipe do filme, com a mesma música interpretada pelo The Killers, que ressaltou os solos de guitarra, vale assistir.











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